terça-feira, 13 de setembro de 2011

Por favor, sem absolvições

Não quero relatar fatos históricos de minha vida para dar-lhes um tom de erros, pecados e arrependimentos, todavia quero te falar da minha profundidade, da minha loucura banal de querer sentir o mundo a todo o momento, mesmo nas coisas ínfimas.
Preciso confessar que ao acordar pela manhã, muitas vezes não quero me levantar. Fico na cama com os olhos doendo, revirando-me para alcançar qualquer pedaço de sono e sonhos que ainda repousassem em mim. Não é nada trágico, não é porque eu ache que não vale a pena viver o dia-a-dia, é que pela manhã bem cedo parece ser o melhor horário para reflexões sobre si, compreende? Com aquela luz leve entrando pela janela e o som dos passarinhos cantando, acasalando, mal educados sem me darem bom dia, se bem que há a possibilidade de me darem e eu ainda não aprendi a falar passarinhes (aqui estou eu fazendo meu papel de relativizar, afinal, pobres pássaros).
Confesso que eu vejo algo escondido por trás das folhas das árvores, não são gnomos, nem borboletas, mas um mosaico de verdes que se modifica ao vento, ao sol, ao passar das estações. Algo parecido acontece com as nuvens, existe algum segredo nelas, na verdade espero que haja vários; adoro as nuvens no céu, acho triste quando o ele é tão límpido, pois sobre o quê pensarei quando estiver sentada olhando pela janela do ônibus?
Tudo bem, admito também que comédias românticas às vezes podem me ser tão reveladoras, acho que para isso existem os clichês, para nos forçar a pensar em banalidades que só são comuns por serem cotidianas, e não por serem destituídas de valor. Claro que o clichê pode ser político também, como um ensinamento homogêneo de algo, mas é incrível como há tantas formas de se revestir um clichê. Fato.
Adoro conversas sem noção, como essa autodeclaração. Conversar sobre o sabor de cafés, chás, vinhos e cervejas. Falar sobre músicas como na cena inicial de “Cães de aluguel” ou sobre como você me faz mais apaixonada só porque franze a testa de uma maneira tão peculiar. Conversar e compartilhar minha caneta roxa contigo, para jogar seu telefone fora depois. Anda a noite e não sentir calor, e pensar que adoraria dividir as ruas com meus amigos e rir cantando em espanhol com eles. Ouvir suas histórias e me sentir lisonjeada por ser a pessoa a ouvi-los, e ter meus dedos formigando pela necessidade de entregar-lhes bilhetes reveladores do meu afeto.
Ah, como adoro olhar para o mundo e para as pessoas que todos os dias me tornam repleta para depois me retirar tudo ao me jogarem em um abismo da não-criatividade: perdão, eu preciso de culpados, quando não puder assumir a culpa só.
Confesso-te tudo isso como uma avalanche, um rio que destruiu sua represa, como uma chuva que esperou meses para cair ao chão, porque vejo quão natural é minha confissão, como água, como neve, como incêndio em dias de calor. E hoje realmente não me importo se minhas palavras te cheguem bem ou mal escritas; quero que seja tosco, rude, mas válido e sincero. Pela minha confissão não desejo absolvição.