domingo, 30 de janeiro de 2011

Meus olhos podem ver através da tua alma
Não penses que estas nuvens me impedem de ver
Posso sentir a tua apreensão

Amo-te simplesmente
Porque consigo ver em teus olhos
A minha solidão

Você me vê quando estou invisível
Você ouve no silêncio da noite
O meu pensamento indizível

Há tanto a te dizer mas não tenho coragem
O desejo apenas de ser
Teu ópio e tua tatuagem

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sonhos de tarô


Jantei contigo às minhas costas. Não te fitei tête a tête, mas te observei no reflexo do meu copo e talheres. Você balançava, e eu degustava um peixe temperado com manteiga e ervas finas. Sua cabeça pendia levemente para o lado, e minha boca experimentava um vinho do porto envelhecido. Dividia meus sentidos entre o jantar e sua dança tão esteticamente mortal: seus cabelos despenteados, seus lábios machados de vermelho e rígidos, sua roupa amassada, seus pés que pairavam no ar como em um balé, seus braços sem vida a emoldurar seu tronco, seus olhos verdes semi-abertos que denotavam culpa.
Tu eras meu sacrifício, a carta central no meu jogo, meu amor destinado a ressurreição. Dependurada.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

"Alto aqui do sétimo andar
longe, eu via você
e a luz desperdiçada de manhã
num copo de café"

Rodrigo Amarante

Meus pensamentos...

Meus pensamentos são como aqueles pássaros que perderam o período de migração. Eles chegam numa dada época, permanecem durante um tempo, se embriagam da luz do sol, da quentura dos dias e da abundância de alimentos, enfim, seguem seus ciclos existenciais. Num dado momento, o instinto não consegue superar o estado de embriaguez e delírio, e perdendo a data de partida meus pobres pensamentos-pássaros começam a estagnar, perdem sua única chance de crescer, de avançar. Tornam-se presenças estranhas, desconectadas da realidade em volta, isoladas sem perspectivas; entregam-se ao abandono. Assim, aos poucos, eles adoecem, definham solitários, até morrerem sem gerar um fruto sequer.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Sinto-me tão sozinha ao teu lado, como se até meus pensamentos se sentissem intimidados e não conseguissem fluir livremente. Sinto-me embaraçada por esse silêncio e não há nada que possamos compartilhar. Não posso falar, não posso te ouvir, não posso chorar e dizer o quanto dói esse vazio, essa falta de não sei o quê, o quanto machuca esse peso de não te amar. Queria te convidar pra caminhar ao meu lado essa madrugada, sentir a neblina tocar suavemente nossos cabelos e disfarçar nossa juventude, queria sentar ao teu lado, simplesmente tocar sua mão e sentir a coragem necessária para continuar a caminhar. Queria aquele silencio confortador. Queria não ter o teu cotidiano repleto de atividades pra me convencer que minha vida é vazia. Queria não ver teus olhos e conseguir ler teus pensamentos inquietantes _ por que não consegues ver os meus? Por que não consegues sentir os meus medos e minha necessidade de falar, de te contar, de ser um pouco de ‘nós’? Por que você não esquece os lençóis e simplesmente vem me abraçar?

E, de repente, percebo que esse peso não é de não te amar.

domingo, 16 de janeiro de 2011

De tempos idos, a meu amigo R.


Há vazios no mundo. Dentro de cada um de nós. Buracos-negros que não se extinguem, uma fome insaciável, uma incompletude nem sempre caracterizável. Mesmo membros de uma mesma espécie, ainda assim somos diferentes, por isso ao me deparar contigo, percorrer sua face com o olhar e me deter no vazio dos seus olhos, percebi que sua ausência era diferente da minha. Não pude dizer qual era sua falta, sua carência, seu objeto de desejo. No insípido, porém dilacerador não-preenchido que existe em você não pude me reconhecer, mas pude me compadecer, dividir contigo a angústia da não-satisfação, e, nesse momento, nos descobrir novamente iguais.
Como viver a angústia eterna do oco? Talvez a solução seja se agarrar a uma utopia, fantasiar momentos de preenchimento, criar falsas lembranças felizes e vê-las como provas da verdade mais crua existente. Pobres são aqueles vazios de sonhos, para eles não existem utopias, fantasias, criação. Seus momentos de paz são realizados quando não precisam pensar sobre futuro e sentidos existenciais, buscando aos poucos viver uma vida de sentidos, na tentativa de reaprender o mundo, conhecê-lo instintivamente. Refazem todo caminho humano, que durou milhares de anos, no período de suas curtas vidas: do instinto ser levado a intuição, depois aos sentimentos, até a razão: a cobra, enfim, morde sua cauda; e um novo ciclo começa.
Nos meus olhos, o que foi capaz de ver? Nesses olhos cegos, cansados, tomados pela catarata em plena juventude. Ah, por favor, esteja à espreita; no que sua paciência pode te oferecer, desvende o vazio implícito na minha retina. Sejamos companheiros de nossas próprias revelações, porque uma pessoa vazia e só é a mais infeliz das criaturas.

sábado, 15 de janeiro de 2011


De ti quero apenas momentos
Repletos de sentimentos humanos
Sem o tormento da espera
Ou o lamento por tentar eternizar o efêmero

Quero apenas umedecer minha garganta
No teu copo de vodca
Aspirar o sabor do teu cigarro
Respirar teus cabelos
E esquecer que estou morta.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011


Nossos corpos unidos numa noite de inverno
Pedaços de silêncio até o amanhecer
Envolvo-te em meus braços num carinho terno
Uma pergunta tola me faz entristecer

Se você deseja um sacrifício
Não me pergunte se eu morreria por você
Como é que você não percebe
Que meu sacrifício maior é viver?

Morrer!? Eu o faria por mim
Sem medo, angústia ou sofrer
Mas ao teu lado descobri algo incrível
Aprendi que Amar é Viver.

Ano novo, babies

Algo para dizer, não sei exatamente o quê. Queria poder exprimir votos de uma boa passagem e certezas sobre futuros momentos felizes, mas simplesmente não consigo. É um tanto desconcertante não ter nada a dizer, ficar sempre em silêncio acaba por ser um incômodo aos que te cercam. Ah merda, como resolver isso? Não posso bancar a pessimista, simplesmente porque não visualizo coisas ruins, não consigo captar o trágico cotidiano e desdenhar dos modos de viver humanos. No entanto, gostaria de adentrar um filme do W. Allen, seria um belo jeito de começar o ano, isso eu tenho certeza. Enfim...

sábado, 1 de janeiro de 2011


Sou um mar revolto
Num dia de calmaria
Sou a água borbulhante
Numa panela que está vazia

Sou o veneno da serpente
E o soro antiofídico
Sou um ser que vive na terra
Mas habita no infinito

Procuro no ar, no silêncio, no escuro
A explicação para a minha existência
Para esta ausência de vento
Esta indizível calma

Mas o que dizer deste esquife saudável
Em que jaz a minha alma?