De novo, que sorte, não? Anos se perpertuam, um seguido do
outro, existindo na infinitude que é o tempo, e nós eternamente a copiá-los,
tornando-nos mesmo que por instantes infinitos em um golpe de sorte que nos
joga através de sucessivas transições, sejam estas dos anos ou não.
Se antes não queria as reflexões irônicas do Allen para
desbravar minhas próprias alucinações teóricas-experenciais sobre a vida*,
terminei o ano me deixando tomar por devaneios com Clarice e seus olhos verdes
de gato desdenhosos – redundância. Suas palavras mansas, porém pesadas, capazes
de alçar profundezas desconhecidas pelos próprios leitores, chegaram a mim como
máxima para 2013: “Como viver magoava. Viver era uma ferida aberta”. Essas duas
frases decodificaram todo um compêndio de sensações que fizeram meu eu orgânico
e abstrato estremecer durante os últimos meses, e transmutaram-se mais tarde de
mero português para aprendizagem, cujo resultado agora quase torno
enciclopédico: minha experiência anual em descrições limitadas, tal qual um
verbete da Barsa.
Meu ensinamento interior de 2012 para 2013 foi simplesmente
o de aceitar as minhas dores, sem execrá-las e escondê-las por vergonha ou por
testes idiotas de fortitude. Entender que ser nada, estar nada e abraçar vazios
momentâneos é uma dádiva, mas vivenciar tal experiência e cativar cada cicatriz
e laceração é um grande passo rumo à lembrança exilada em nosso inconsciente de
que somos humanos, e, portanto, podemos relaxar um segundo e só sofrer.
Então, um feliz 2013 para quem nos lê, espero que pensar no
sofrimento como uma condição inequívoca, traga alguma espécie de alívio e
constante negação aos livros de auto-ajuda(-do capital). Hoje, meus melhores votos.
*Vide os post's de janeiro anteriores.