sábado, 29 de janeiro de 2011

Sonhos de tarô


Jantei contigo às minhas costas. Não te fitei tête a tête, mas te observei no reflexo do meu copo e talheres. Você balançava, e eu degustava um peixe temperado com manteiga e ervas finas. Sua cabeça pendia levemente para o lado, e minha boca experimentava um vinho do porto envelhecido. Dividia meus sentidos entre o jantar e sua dança tão esteticamente mortal: seus cabelos despenteados, seus lábios machados de vermelho e rígidos, sua roupa amassada, seus pés que pairavam no ar como em um balé, seus braços sem vida a emoldurar seu tronco, seus olhos verdes semi-abertos que denotavam culpa.
Tu eras meu sacrifício, a carta central no meu jogo, meu amor destinado a ressurreição. Dependurada.

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