Corra, corra, venha ouvir o blues, afogar-se na melodia do melancólico e belo. Se entregue a essa sensação revelada por seu coração, que se aperta e desafoga em questão de segundos. Ouça com atenção, deixe seus ouvidos se tornarem as portas para a música do alívio e da confissão. Teletransporte, veja o bar enevoado pela fumaça dos cigarros, Count Basie está ao piano, tocando sem perceber ninguém. Ele se torna membro do instrumento, é parte dele pela eternidade. Os burburinhos preenchem os espaços deixados pela música, são sussurros leves que viram parte da composição do ambiente. Caminhe até o balcão, olhe profundamente para o garçom, e peça um gim. Sente-se. Olhe a bela mulher do outro lado do salão cruzando as pernas, parece que tudo naquela noite foi feito para ela. Olhe sem medo, aproxime-se com o olhar, toque-a a distância, deixe que ela perceba e queira mais. Dissolva-se no espaço, você é a fumaça expelida pelos lábios rubros da dama, a bebida que lhe atravessa a garganta, a música nas cordas do piano, nos dedos de Basie, nos ouvidos perfumados da mulher de negro.
Levante, e tire-a para dançar, segure seus dedos e encontre sua cintura, ambos os corpos que se arrepiam. Conduza-a, sinta o perfume de seus cabelos, deixe sua respiração falar baixinho palavras eróticas no pescoço dela, permita se excitar. Você é ela, o piano, a música, o hálito de gim, o vestido decotado que revela e esconde a beleza dos seios. Tu és tudo, mil partículas, tu és nada, e hoje, não há do que se arrepender.
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