Sinto um engasgo na garganta, e sei que se nesse exato momento ela fosse cortada, mais que sangue sairia da ferida. Do corte aberto extravasaria meu ser despedaçado em angústias, no formato de soluços descompassados finalmente libertos. E nos pedaços capazes de alcançar o chão ou flutuar perante os olhos, os passantes poderão vislumbrar as memórias dilaceradoras, os desejos frustrados, as esperanças ressequidas, os medos alimentados na madrugada solitária. Minha garganta, minha caixa de Pandora. Serei capaz de costurar o rasgo, antes que perca aquilo que de bom há em mim?
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